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University of Texas University of Texas Libraries

Rosana Paulino Resources

Critical Essay (Portuguese)

Introdução por Lorraine Leu

Para marcar o lançamento do Archiving Black América, uma iniciativa que se concentra no reconhecimento e na reparação da violência e da antinegritude, o Black Diaspora Archive de LLILAS Benson adquiriu três obras da artista plástica brasileira Rosana Paulino. 

A ênfase do trabalho de Paulino na pós-vida da escravidão na sociedade brasileira é sem precedentes no cenário artístico do país. Há mais de 25 anos ela questiona o projeto nacional de democracia racial e o sistema visual nela produzido. Paulino é doutora em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo (USP) e foi bolsista da Fundação Ford (2006-2008), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes - Ministério da Educação do Brasil, 2008-2011) e da Fundação Rockefeller/Bellagio Center (2014). Em 2019 ela se tornou a primeira mulher negra a ter uma retrospectiva de seu trabalho na Pinacoteca em São Paulo, um dos espaços mais importantes para as artes visuais do país. A artista é uma fonte de inspiração e uma mentora para uma geração emergente de artistas negres no Brasil. 

Nesta série de litografias intituladas "Assentamento", através da reprodução de fotografias tiradas no Brasil pela equipe do zoólogo Louis Agassiz durante a Expedição Thayer, ocorrida entre 1865 e 1866, Paulino aborda a violação de corpo e humanidade dos cativos que os convertia em propriedades. A expedição registrou características somatológicas e frenológicas dos tipos raciais dos grupos étnicos africanos, em apoio à tese de Agassiz sobre a suposta inferioridade dessas pessoas. O zoólogo e sua equipe também viajaram a Manaus, na Região Amazônica, para produzir documentação para sua argumentação sobre os efeitos indesejáveis da miscigenação racial. O trabalho de Paulino presta homenagem às mulheres escravizadas e aos seus descendentes, que se engajaram para criar formas de conhecimento e de vida que afirmaram sua humanidade e conectaram o passado com o presente de forma sustentável.  

Em "Assentamento", Paulino considera as mulheres negras como as sementes e raízes da sociedade e da cultura no Brasil, cujos sofrimentos e conquistas "assentaram" a terra e fizeram nascer outros universos que continuam se opondo à ordem mundial do colonialismo. Em português brasileiro assentamento também é o ritual de transformar a terra em solo sagrado na prática religiosa do candomblé. Trata-se de plantar ali a energia coletiva da comunidade, para criar um espaço de conexão com os orixás. Assentamento também pode se referir à colocação de uma fundação, uma ocupação de terra, e o ato de gravar ou registrar informações. O trabalho de Paulino, portanto, nos oferece assentamento como uma forma de produção de arquivos negros. 

Este processo de assentamento e luta acontece sob um cenário de morte que permeia o seu trabalho. O genocídio e o terror construíram o Estado-nação e marcam a relação com os negros brasileiros. O trabalho de Paulino historiza a contínua desvalorização de vidas negras e representa um combate à narrativa que persiste em contar histórias da escravidão com nostalgia, e como base feliz da civilização mestiça brasileira. Sua arte e as formas de pensar e ver propõem abolir antigos e poderosos sistemas visuais que naturalizam a violência antinegra. 

 

Lorraine Leu, LLILAS Core Faculty & Co-Diretora, Archiving Black América 

Translation by Ana Luiza Biazeto

 

 

Leu e Paulino na Benson, fevereiro de 2020

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